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Os impactos da pandemia de Covid-19
em motoristas de ônibus de Fortaleza

Por: Caio Brasil, Jean Dantas, Livia Mariah e Victor Cunha

Quem Somos
Contextualização

O ano de 2021 marca a continuação das consequências da pandemia de Covid-19, que modificou as vidas de milhares de pessoas pelo mundo inteiro. No Brasil, de acordo com dados fornecidos pelo Ministério da Saúde, atualizados até o final de maio, o país passa a ter 462.791 mortes e 16.545.554 casos do novo coronavírus. Maio se tornou o terceiro mês mais letal desde o início da pandemia no país, em março de 2020. 

 

O serviço de transporte público envolve uma série de fatores técnicos e humanos. Os motoristas têm que lidar frequentemente com adversidades da profissão como destrato dos passageiros, embarque e desembarque irregular, a precariedade das ruas da cidade, a violência urbana e, ainda assim, conduzir o veículo de forma segura para os passageiros.  

 

A todos esses problemas que acompanham a rotina desses profissionais, soma-se os riscos gerados pela pandemia, que obriga os trabalhadores a ficarem expostos constantemente à contaminação, com ônibus lotados e dificuldades para manter os protocolos de segurança sanitária dos veículos. A soma desses fatores causa problemas não apenas no funcionamento pleno do transporte público da capital, mas, consequentemente, na rotina de trabalho diária de profissionais que atuam em um serviço tido como essencial para a sociedade.  

 

De acordo com documento publicado em 2020 pelo Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da Fundação Getulio Vargas (FGV Ceri), o transporte coletivo é responsável por 50% das viagens motorizadas no país e fornece um serviço essencial para manter as cidades em movimento. Em São Paulo, por exemplo, estima-se que mais da metade das viagens por motivos de saúde ocorrem por transporte público.  

 

Um estudo Chinês identificou que pessoas viajando de ônibus podem ser infectadas por outros passageiros sentados a mais de 4,5 metros de distância. Além disso, o estudo constatou que o vírus permaneceu dentro do veículo por mais de 30 minutos. Em função das medidas de distanciamento, o ideal seria a inclusão de mais veículos em determinadas linhas e horários como forma de reduzir a lotação. Segundo o Shenzhen Bus Group (2020), os veículos não devem transportar mais de 50% da sua capacidade, algo completamente diferente do cotidiano de passageiros e motoristas brasileiros, quando transitam em ônibus lotados com frequência. 

 

Desde o anúncio da execução do Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a Covid-19 pelo Governo Federal, iniciou-se uma série de questionamentos acerca da definição e ordem dos Grupos Prioritários. As primeiras fases da vacinação priorizaram, inquestionavelmente, grupos como profissionais da saúde, gestantes e povos indígenas, no entanto, à medida que as vacinas são aplicadas e etapas avançam, aumenta-se cada vez mais a preocupação de profissionais de serviços essenciais que ainda não foram incluídos. 

 

Diante de tal situação de insegurança, tornou-se apenas questão de tempo até que manifestações e reivindicações ocorressem. O Sintro (Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Ceará) organiza, desde fevereiro, uma série de paralisações nos terminais de ônibus de Fortaleza com o objetivo de terem suas vozes e direitos ouvidos. Entre as reivindicações, melhores condições de trabalho, plano de saúde, reajuste salarial e, sobretudo, prioridade na vacinação são tópicos frequentemente levantados pelos trabalhadores.  "Nossa categoria está perdendo vidas, estamos na linha de frente desde o início dessa pandemia. Correndo risco de pegar a doença dentro desses ônibus lotados.", desabafa Domingos Neto, presidente do SINTRO, ao jornal O POVO.

Nossos Sabores
Covid-19 em transportes coletivos

Com o avanço do conhecimento a respeito do comportamento do vírus da Covid-19 a adoção de medidas para prevenção de contaminação fez-se necessária. Pelas recomendações de distanciamento social e de evitar aglomerações, o transporte público vem sendo tema de constantes debates e receios desde o início da pandemia. 

 

Nem todos os usuários puderam (ou podem) ficar trabalhando em casa, por isso, o transporte público é essencial para aqueles que precisam sair para desempenhar suas atividades profissionais ou resolver situações essenciais. Para entender os impactos no transporte coletivo, ouvimos a explicação do médico infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza, Keny Colares.

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Quem Faz
Protestos

Em abril de 2021, no estado do Ceará, tivemos as primeiras manifestações de motoristas com pautas consolidadas e, sobretudo, duas grandes reivindicações: reajuste salarial e adiantamento de suas prioridades no grupo de vacinação. Os profissionais pretendiam passar da quarta para a segunda fase. Tais protestos começaram por conta da morte de motoristas desde a reabertura total de seus postos de trabalho, colocando-os em uma situação de risco. Além disso, também reforçam a perda de um direito básico, o plano de saúde.

Miguel Guimarães, Chefe do Setor de Planejamento da Etufor, reitera que a empresa jamais deixa de ouvir as reivindicações dos motoristas em relação às greves e está sempre ciente de seus interesses em busca de vacinas prioritárias e reajuste salarial para os operadores. Miguel enfatiza que a Etufor busca sempre tomar as providências e soluções o mais rápido possível, pois tais acontecimentos prejudicam o cotidiano da população.

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Ainda de acordo com dados fornecidos pelo profissional, houve uma queda de arrecadação e procura pelos transportes públicos em decorrência da pandemia  de Covid-19, e que atualmente é feita uma estimativa de 1 milhão de pessoas por dia em quatro tipos de transportes: ônibus, microônibus, topic e o ônibus articulado. Além disso, houve queda de demandas em todas as linhas e qualquer frota que tenha sofrido com a diminuição, tal corte foi feito com base em estudos e dados de autoria da própria Etufor.            

 

Em relação aos horários de trabalho dos motoristas, ele afirma que não pode passar de meia noite e, caso venham a exceder este horário, os profissionais têm direito ao recebimento de hora  extra. Miguel Guimarães reforça, também, que os motoristas têm seus horários e turnos de manhã e noite, e que apesar dos cortes de linhas e baixas demandas, as demissões por parte das empresas foram baixíssimas.

Manifestações organizadas pelo SINTRO em terminais de ônibus de Fortaleza e publicadas em seu Instagram oficial.
Sindiônibus

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) representa as empresas de transporte coletivo de Fortaleza e Região Metropolitana para fins de estudo, coordenação, proteção e representação dos interesses da classe econômica na área de transporte coletivo.

 

A Gerência de Operações do Sindiônibus atua na operação da frota das empresas consorciadas. O setor administra a execução da programação de viagens, planeja e executa as operações especiais para os eventos da cidade, orienta as tripulações para o cumprimento das normas e procedimentos do sistema. 

O debate que se apresentou com a questão do distanciamento, num transporte que é projetado para ser um transporte de massa, dimensionando até seis pessoas por metro quadrado para ser economicamente viável, agora estava em cheque. Com o impacto da pandemia, o gerente de operações do Sindiônibus, João Luís Maciel, ressaltou a dificuldade em continuar operando devido à obrigatoriedade contratual mesmo diante da queda brusca de receita e classificou como uma “decisão difícil”. 

 

A operação antes da crise sanitária era composta por 1750 veículos e transportava em média 950 mil passageiros por dia útil, sem ter clientes para atender na quantidade anterior, “então o primeiro passo foi negociar com o poder público a redução da frota para o sistema continuar funcionando, precisamos baixar os custos operacionais visto que a nossa receita vai cair drasticamente”. Gerenciar a oferta para trazê-la para um patamar suportável foi a estratégia adotada, então o número de veículos caiu para 1350 veículos, sendo 200 destes subsidiados pelo estado e prefeitura, transportando em média 440 mil por dia útil em junho de 2021. 

 

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) representa as empresas de transporte coletivo de Fortaleza e Região Metropolitana para fins de estudo, coordenação, proteção e representação dos interesses da classe econômica na área de transporte coletivo.

 

A Gerência de Operações do Sindiônibus atua na operação da frota das empresas consorciadas. O setor administra a execução da programação de viagens, planeja e executa as operações especiais para os eventos da cidade, orienta as tripulações para o cumprimento das normas e procedimentos do sistema. 

A queda de receita do sindicato foi em torno de 80% no momento mais crítico, ainda assim, 40% da operação continuou em funcionamento, “diminuir o impacto, porque se não o serviço ia colapsar em questão de dois ou três meses porque as empresas não teriam caixa para bancar esse custo”, explica João Luís.

Contato
Gallery
Motoristas

Entrevistamos dois motoristas de empresas distintas, Jalyson dos Santos de Freitas, profissional da Expresso Guanabara, e Antônio Mendes Nascimento, motorista do transporte urbano de Fortaleza. Realidades diferentes, porém, com o mesmo sentimento de negligência. 

Reportagem: Como você se sente por não ter se vacinado?   

Jalyson dos Santos: Me sinto esquecido. Nós trabalhamos diretamente com o público e não somos serviço essencial?! Acredito que deveríamos ter nos vacinado na segunda fase, trabalhamos com embarque e desembarque, coleta de passagem. Não tivemos prioridade, me sinto totalmente negligenciado, sem segurança alguma. No meu ponto de vista, nada adianta a empresa nos resguardar na higienização dos carros, cuidado pessoal e não nos vacinar.  

Reportagem: Houve redução de frotas, acha que essa redução faz sentido ou a aglomeração aumentou com essa atitude? 

JS:

 

Reportagem: Diante do cenário atual, como você se sente em relação a ser motorista?  

JS:

Reportagem: Vocês possuem plano de saúde? 

Antônio Mendes: Não são todos os motoristas do transporte urbano de Fortaleza que possuem, o meu foi cortado no início da pandemia. Nós fomos extremamente atingidos, tivemos  uma grande demanda mesmo com as frotas reduzidas, o que influenciou muito na contaminação dentro dos ônibus. Eu perdi muitos amigos, fiquei com o psicológico bastante abalado, fiquei com aquela coisa na cabeça: “rapaz, será que eu sou o próximo? “
 

Reportagem: Como a pandemia afetou a sua questão salarial? 

AM: Dei graças a Deus por não ser demitido. Quase 20 amigos foram demitidos, diariamente isso acontece. No início da pandemia o meu salário foi reduzido 25%, desde então estou recebendo menos.

   

   

 

Até o momento...
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